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Cronos ou Kairós, em que tempo está o idoso?

A expressão naquele tempo, o meu tempo, falta de tempo tornaram-se comuns no dia a dia. A questão é mais profunda: o que os homens estão fazendo com o seu tempo? Novos caminhos podem ser abertos para os jovens pensarem no tipo de vida que levam e aproveitar as experiências para seu próprio crescimento.

O que fazer com o tempo livre, aproveitar melhor o tempo, saber viver bem o tempo, são questionamentos no cotidiano das pessoas, independentemente da idade que tenham. Entretanto, tratar do assunto para os idosos é um pouco mais complicado. É necessário entender a questão da longevidade. Viver mais para quê, se poucas condições de vida estão sendo dadas a eles? Será que longevidade e tempo livre combinam?
 
Para que viver mais se não há como viver bem? Sem dinheiro, sem esperança de dias melhores, sem moradia, sem nada. Enfim, há muitos questionamentos a serem feitos. Até que ponto as empresas podem colaborar com o indivíduo, ajudando-o a viver mais uma fase da vida com luz, esperança e atividade enquanto há tempo?

Sabe-se que antigamente as pessoas encontravam nas empresas um elo de sobrevivência diferenciado. Criavam em seus empregos vínculos indissolúveis, trabalhavam vários anos no mesmo local, as pessoas com quem conviviam também eram as mesmas com quem passavam férias e finais de semana, afinal era uma grande família. Todos se conheciam, participavam dos problemas e felicidades de um ou de outro. Com o tempo isso foi se acabando, as pessoas já não permanecem muito tempo empregadas nos mesmos lugares, evitando assim vínculos maiores com os outros.

O homem tornou-se mais egoísta em seus procedimentos, as empresas já não valorizam tanto os empregados que ali permanecem por tanto tempo, a filosofia do trabalhador passou a ser ir em busca de novos desafios. E o que isso gerou nos empregados? Se não se criou o vínculo com as pessoas, mas sim com o próprio trabalho, quando ele cessa, o que fazer?
 
Recentemente realizei uma pesquisa com idosos, cujo objetivo era perceber como eles enfrentavam a vida. O que foi constatado nas entrevistas foi que os idosos necessitam criar vínculos para sua própria superação, ligar-se a alguns vínculos durante a vida pode torná-la mais fácil, mais prazerosa. Vários vínculos foram demonstrados: política, solidariedade, religião, família. Entretanto, o trabalho para o idoso ainda é fundamental.
 
Os entrevistados mostraram ser possível vincular-se ao trabalho, tornando-o mola propulsora de desenvolvimento pessoal. Há necessidade do trabalho para que o ser não perca sua vontade de viver, de poder ser útil, mostrar a vivência de suas experiências para o outro e também dar um sentido especial à vida. O trabalho é fundamental para que o homem seja resiliente na vida adulta e na velhice.
 
Um outro seguimento para as empresas seria criar clubes ou comunidades onde os idosos pudessem se reencontrar e contar suas experiências que poderiam ser transformadas nas histórias de vida das empresas. Poderiam ainda, desenvolver meios que integrassem os velhos na vida das empresas. A informática poderia ajudar, pois seria um canal aberto a discussões.
 
Enxergar o idoso como um ser incluído na sociedade não é uma tarefa fácil. Se ele for ouvido, com certeza ele poderá mostrar que não é incompetente, ele quer e precisa produzir e ser útil. Muitas empresas são dirigidas por empresários que já ultrapassaram os 60 anos. Eles trabalham e com seu esforço e capacidades empresariais sustentam os mais jovens, que muitas vezes não estão preparados para assumir responsabilidades nas mesmas.
 
Os empresários, principalmente os que encontram no trabalho seu vínculo mais consistente com a vida, poderiam dar seus exemplos e criar condições para que seus funcionários não fossem para casa e se sentissem tão inúteis. Uma outra possibilidade possível seria como nomear os idosos, mesmo sem ser assalariados. As empresas, com certeza, possuem todo o mecanismo social para melhorar essa realidade. Elas são ouvidas pelo governo e pela mídia, elas podem criar projetos que auxiliem e muito a sociedade mais velha. É necessário que as empresas não desperdicem o vínculo que os empregados fazem com ela. Se criou seu vínculo com a empresa, deve-se evitar a quebra brusca, para que ele não deixe de querer viver, achando-se inútil. Com certeza, as empresas podem colaborar com o indivíduo, ajudando-os a viver mais uma fase da vida com luz, esperança e atividade.
 
Por ¹Ana Maria Ramos Sanchez Varella
 
Pós-doutora em Educação
 
 
¹Ana Maria Ramos Sanchez Varella: Pós-doutora em Educação. Doutora em Educação, Mestra em Gerontologia, Psicopedagoga e Licenciada em Letras.
 
Autora das obras: Envelhecer com desenvolvimento pessoal; Encontros e desencontros, nada é por acaso! A Comunicação Interdisciplinar na Educação e Quinta série, um bicho de sete cabeças?
 
Líder do grupo de pesquisa: FIQUE (Física Quântica e Espiritualidade- Grupo de Estudos e Pesquisa do Centro Universitário Ítalo Brasileiro- UniÍtalo)